A saúde é um bem humano fundamental, sem o qual não podemos gozar da plenitude da vida, que é um dom divino. O esporte é importante para a conquista e a manutenção da nossa saúde, em todas as idades. A palavra ‘salus’, em latim, significa ao mesmo tempo ‘saúde’ e ‘salvação’. O duplo mandamento do amor nos convida a amar a Deus sobre todas as coisas, e a amar ao próximo como a si mesmo, mas muitas vezes esquecemos de amar a nós mesmos, negligenciando o importante dever do autocuidado. Como é possível amar o próximo se eu não amo a mim mesmo? Como explica Santa Catarina de Sena, ‘cada um é o primeiro próximo de si mesmo’.
‘No entardecer da vida seremos julgados pelo amor’, afirma São João da Cruz. O esporte nos ajuda a cuidar do corpo, que é ‘templo do Espírito Santo’ (1 Cor 6,19). São Paulo nos convida a glorificar a Deus no nosso corpo (cf. 1 Cor 6,20), mas quem pratica esportes sabe que os benefícios vão além do bem estar físico. ‘Orandum est ut sit mens sana in corpore sano’, escreveu o poeta romano Juvenal, ensinando que ‘é preciso rezar para que haja uma mente sã num corpo são’. O esporte é um instrumento de formação e cuidado do ser humano integral, corpo, mente e espírito (cf.1 Ts 5,23).
Inspirados em Jesus, que passou pela terra fazendo o bem, e ‘fez bem todas as coisas’ (Mc 7,37), compreendemos que o esporte é uma escola para a vida, pois na vida, assim como no esporte, o atleta procura ‘dar o melhor de si’. Este é o titulo do documento publicado pelo Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, que nos apresenta a perspectiva cristã do esporte e da pessoa humana. O documento nos recorda que o lema olímpico ‘citius’, ‘altius’, ‘fortius’, ‘mais veloz’, ‘mais alto’, ‘mais forte’, além do esporte, pode ser aplicado à excelência humana em geral.
Esta excelência transparece no vigor da vida de Cristo, nas longas caminhadas em seus três anos de vida pública, na tenacidade nos sofrimentos de sua paixão, até que pudesse gritar ao Pai, ‘tudo está consumado’(Jo 19,30). São José lhe dera o exemplo na fuga para o Egito, nas longas viagens entre Nazaré, Belém e Jerusalém. Após a ressurreição de Jesus, os apóstolos foram os primeiros ‘atletas de Cristo’, anunciando o Evangelho por todo o mundo. A Igreja nunca rejeitou o esporte, pois tudo aquilo que é humano lhe interessa, para que todos se salvem (cf.1 Tm 2,4). O esporte educa para a superação de si mesmo, para a doação e o espírito de sacrifício, tão necessários para aqueles que desejam seguir o mestre ‘tomando a cruz de cada dia’ (Lc 9,23), para ‘entrar pela porta estreita’ (Mt 7,13).
As cartas de São Paulo elevam o esporte para aquela perfeição e plenitude de vida à qual chamamos ‘santidade’. Os ‘atletas de cristo’ correm para conquistar ‘uma coroa imperecível’ (cf. 1 Cor 9, 24-27), perseguem o alvo ‘rumo ao prêmio celeste’ (Fl 3,14), ‘combatendo o bom combate’ (2 Tm 4,7), com disciplina e perseverança, na busca pela salvação. A Igreja valoriza o esporte como um ‘ginásio da vida’, em que as virtudes podem ser interiorizadas para testemunhar a alegria de viver.
São João Bosco reconhecia o valor educativo do esporte, dando espaço para que os jovens tivessem tempo para os jogos no oratório. ‘Antes morrer do que pecar’, dizia São Domingos Sávio. ‘Dai-me almas e ficai com o resto. O que me importa é a juventude santa’, ensinava Dom Bosco. O Venerável Guido Schaffer sentia-se perto de Deus no Surfe, ‘caminhando sobre as águas’ com Jesus Cristo, ‘o primeiro surfista’. O bem-aventurado Pier Giorgio Frassati encontrava-se com Deus subindo as montanhas, unindo esporte e espiritualidade. O jovem Carlos Acutis, apóstolo da internet, amava o futebol, e nutria grande admiração por Pelé.
‘A juventude não é uma época da vida, mas uma qualidade da alma. Os anos enrugam a pele, mas perder o ideal enruga a alma’, ensinava o saudoso bispo Rafael Lhano Cifuentes. E mesmo o médico americano Kenneth Cooper, que revolucionou a busca pela saúde ao popularizar a prática de exercícios aeróbicos nos anos setenta, escreveu que além do ‘cooper’, ‘é melhor acreditar’. A piedade ‘é útil para tudo, porque tem a promessa da vida presente e da futura’ (1 Tm 4,8). A ligação entre a Igreja e o esporte está no fato de que a prática do exercício físico, unida à fé, nos conduz à saúde e à salvação.
O papa Leão XIV, numa mensagem de esperança e de paz, ressaltou a importância do esporte para a vida cristã e para a sociedade: ‘Pensemos no Beato Pier Giorgio Frassati, padroeiro dos esportistas, que será proclamado santo no próximo dia 7 de setembro. A sua vida, simples e luminosa, recorda-nos que assim como ninguém nasce campeão, ninguém nasce santo. É o treinamento diário do amor que nos aproxima da vitória definitiva e nos torna capazes de trabalhar para a construção de um mundo novo’.
