Durante a abertura oficial, houve a execução do Hino Nacional e do Hino de Vitória da Conquista. A programação seguiu com o discurso do idealizador do projeto, Nei Rodrigues, popularmente conhecido como Nei Brutus, e do assessor do deputado federal Bacelar, Leandro Tomazzi, que representou o parlamentar apoiador da iniciativa. Ambos destacaram relevância do projeto para a cidade ao dar oportunidade a crianças, adolescentes, jovens e adultos de terem acesso a diferentes modalidades esportivas gratuitamente. Outros parceiros do projeto são o deputado estadual Laerte do Vando (PSC) e a empresa Comveima. A contribuição mensal dos apoiadores auxilia na compra de kimonos e faixas para as crianças.
- Execução do Hino Nacional e do Hino de Vitória da Conquista
- Leandro Tomazzi
- Aluno recebendo a graduação
Após treinarem durante um ano, a tão esperada troca de faixas iniciou-se em seguida. A condução esteve sob a responsabilidade do professor Nei Brutus na companhia de 12 faixas-pretas. Um a um, os alunos subiram ao palco para receber a faixa correspondente ao nível alcançado na graduação. Entre os 177 graduandos, 49 receberam a faixa azul, 54 a cinza e 48 a amarela. Além delas, houve ainda a entrega de oito faixas verdes, cinco marrons, duas pretas e 11 roxas. Os atletas vieram de diferentes localidades, como os bairros Brasil e Campinhos e os loteamentos Morada dos Pássaros, Vila América, Kadija e Conveima I e II. Da zona rural, havia atletas do distrito de Inhobim na cerimônia.
Esporte que transforma
Presente no evento para prestigiar a conquista da filha, Valéria Oliveira dos Santos, relatou, de forma emocionada, que a arte marcial mudou a vida da sua pequena Larah Victória Oliveira, que possui Transtorno do Espectro Autista (TEA). Segundo Valéria, Larah conseguiu superar a dificuldade de relacionamento social. “Eu sofria demais, até que conheci o perfil do Nei e inscrevi minha filha nas aulas e, de lá para cá, consegui paz para lidar com minha filha”, disse.
Para a graduanda Ana Lídia, que faz parte do projeto social, no Distrito de Inhobim há dois anos, o caminho até a faixa amarela foi de “muitos perrengues”, mas que valeram a pena pela transformação que trouxe para a sua vida. “O jiu-jítsu me ajudou bastante na escola, no comportamento em casa e, também, na educação e desenvolvimento pessoal. Ajuda também no quesito físico e, principalmente, na mentalidade”, afirmou.
União que faz a força
Nei Brutus, idealizador do projeto: “Para uma criança em situação de vulnerabilidade, essa formação contribui diretamente no desenvolvimento do caráter”.
Sem incentivo financeiro da gestão municipal, os custos para a realização do evento contou com a contribuição dos alunos, que arrecadaram dinheiro para pagar o local da celebração, os sete ônibus que transportaram os atletas e a comunidade, além da compra dos ingredientes para a feijoada, servida no almoço. “Sem eles, eu não teria conseguido. Como eu iria alugar um espaço desse sozinho para uma festa gigante dessa? Eu não tenho como. Eu pensei que eu ia achar isso aqui na nossa cidade [apoio], mas, infelizmente, é complicado”, confessou Nei.
Presente na cerimônia, o secretário municipal de esportes, Chico Estrela, parabenizou os atletas pela graduação e prometeu apoio ao projeto no próximo ano. “Vitória da Conquista, sem sombra de dúvidas, é a capital das artes marciais. Vocês vão contar com a Secretaria Municipal do Esporte para que a gente possa levar a paz e a tranquilidade para todos os pais da nossa cidade”, ressaltou.
Lutando Pela Fé
O projeto social surgiu em 2016, quando o professor faixa preta 1º grau, Nei Brutus, passou a dar aulas particulares de defesa pessoal para dois amigos policiais da Igreja Batista Bíblica Ebenézer, atual Igreja Batista Nova Sinai. As aulas que, até então, eram somente para os dois oficiais, passaram a chamar a atenção das crianças, que logo se interessaram em participar.
Segundo Nei, criar um projeto social não foi a intenção, mas o que o inspirou a levar os treinos adiante foi a infância com a madrasta. “Ela chegou até a queimar meus dedos com brasa, com cinco anos. Minha infância não foi a que uma criança merece ter. Quando eu olhei para a situação do bairro Conveima I, com muitas crianças passando por situações piores daquelas que passei, falei: ‘taí uma coisa que talvez pode mudar a realidade dessas crianças’, relembrou.
Atualmente, após uma trajetória de 10 anos, o projeto social Lutando pela Fé atende cerca de 500 pessoas, entre crianças, adolescentes e adultos, nas modalidades de jiu-jítsu, muay thai, capoeira e reforço escolar. Para participar das atividades do projeto, a idade mínima é de 4 anos. A aquisição de kimonos e faixas para os alunos é garantida pelo apoio de políticos de fora de Conquista e da empresa privada local, Comveima.
Conforme os registros, o esporte que mais atrai participantes é o jiu-jítsu, embora também haja participantes que preferem combinar as aulas com diferentes modalidades. Com as aulas, que ensinam técnicas e disciplina, eles passam a enxergar novos caminhos para construir uma vida melhor. “Para uma criança em situação de vulnerabilidade, essa formação contribui diretamente no desenvolvimento do caráter e mostra como enfrentar os desafios do dia a dia com mais resiliência”, enfatizou Nei.
Um aprendizado para a vida
Professor na base do Comveima I, Jackson Santos Rodrigues explicou que as aulas contribuem para que os jovens atletas tenham foco e determinação na vida. “O projeto social é para ajudar na disciplina, no respeito aos mais velhos, aos pais, ao professor na escola. A importância não é só na arte marcial, mas também na vida do atleta, em questão de moral, de honra e de respeito”, disse.
Bernardo Silva, de 7 anos, participa do projeto há cinco anos e está entre os alunos que praticam mais de uma modalidade esportiva ao mesmo tempo. “Eu gosto de participar. Faço capoeira, muay thai e jiu-jítsu três vezes por semana”, contou.
Já Rebeca Santana, de 14 anos, dedica-se exclusivamente ao jiu-jítsu. Com nove anos de treinamento, ela afirma que o esporte lhe proporcionou muitos aprendizados. “O projeto, para mim, é um meio de disciplina, de amizade, de aprender o esporte. É a minha segunda casa”.
*Estudantes do sexto semestre do curso de Jornalismo – Disciplina Jornalismo na Internet – Especial Bairro a Bairro



